terça-feira, 23 de março de 2010

Terça-feira

Acordamos por volta das 0430 e começamos a preparar a saída para a Cidade do Panamá. Levantamos ancora e como o fundo era de lama, tivemos que lavar a corrente para não encher o paiol da corrente e o deck com barro. Levamos mais ou menos 0130 até a “plaita Del amador” local onde iríamos ancorar, próximo a duas marinas, uma a “flamenco” que só tem lancha e a outra com o nome da praia que ainda está em construção, só tem um cais pequeno para atracação do bote e abastecimento de água e disel. Assim que ancoramos sai com Aleixo e Jeff para irmos até a marina fazer um reconhecimento da área, checar o local de desembarque, pagar a taxa de desembarque, ir ate o fedex pegar a peça do alternador, comprar uns fusíveis que descobrimos que não tínhamos de reserva, almoçar, comprar cartas náuticas da Nova Zelândia e compra frutas, verduras e pães. O dia acabou sendo uma epopéia, pois a peça na fedex não podia ser retirada, eles tinham que entregar na marina, pois entrou no país sem pagar imposto e nos foi informado que a peca seria entregue entre 1400 e 1500. Fomos então atrás dos fusíveis, passamos por umas 4 lojas, cada uma num canto da cidade para conseguir comprar todos. Esquema ”barnabé logística”. Paramos para engolir o almoço, literalmente, pois Aleixo comeu muito rápido e ficou nos apresando. Fomos até a Isla Del Amador que é a loja de cartas náuticas e publicações, Aleixo comprou duas cartas da NZ, um livro sobre pirataria no mundo, um sobre cruzeirar no pacifico, a tabela de maré do pacifico e bandeira do Equador para Galápagos e da França para a Polinésia. Precisamos da tabela de maré para entrar em algumas ilhas que tem formação de atol e o procedimento de entrada tem que ser feito na maré parada, caso contrario a correnteza e muito forte, dificultando a manobrabilidade do barco. Na seqüência voltamos para a marina para aguardar o entregador da fedex, que só chegou as 1505. Conferimos a peça e fomos ao mercado fazer compras. Chegamos no barco no final do dia, aproveitei para passar entre os barcos ancorados, acabei encontrando Daniel um sueco que morava na Noruega que esta dando a volta ao mundo solitário, não lembro se especifiquei ele anteriormente, mas quando estávamos em Colón demos uma carona para ele. Fiquei tomando uma cerveja com ele e trocando idéia até o sol se por, dei mais uma volta de bote no meio dos barcos e voltei ao Fraternidade para tomar banho comer e dormir. Na quarta ficamos eu, Caetano e Lito para lavar a roupa e ficar no leva e trás do píer até o barco. Aproveitamos para ir correr assim que o pessoal saiu, pois sabíamos que iam demorar um pouco para voltar. Retornamos ao barco pegamos as roupas de cama, as pessoais cada um lava a sua, e fomos para um tipo de galeria que tens uns restaurantes, lojas de souvenir, lavanderia e uma loja de conveniência que disponibiliza internet. Lito nos deixou e voltou para fazer o almoço eu e Caetano ficamos nos revezando para cuidar da roupa e aproveitar para ficar na net. Seria maravilhoso se o sinal da net chegasse à lavandeira, mas infelizmente isso não acontecia. Terminamos a roupa uns 15 minutos atrasado do horário combinado para levarmos as pessoas até o barco. Voltamos para o barco, almoçamos e como tínhamos a tarde livre saímos para passear, tomamos uma cerveja na conveniência e resolvemos ir para a Cinta Costeira, orla principal da cidade. Estávamos no ponto de ônibus e já tínhamos perdido o primeiro devido a indecisão do que iríamos fazer, foi quando passou um casal de colombianos que por acaso levantei a mão na hora e eles pararam para nos dar carona. O casal é muito simpático, eles são proprietários de um salão de beleza em um hotel, inclusive eles passaram pelo salão deles para pegar um guia do Panamá para nós, depois nos deixaram em um shopping. Entramos por uma porta e saímos na sequencia pela outra e caminhamos até a orla, lá ficamos de bobeira um tempo e depois caminhamos mais um pouco, tomamos sorvete e assim que escureceu fomos para um local chamado Zona Viva, que nos disseram que tem muitos bares e discotecas, porem quando chegamos lá descobrimos que só abre a partir de quinta!!!! Como era perto do barco e tínhamos como limite para o bote nos buscar 2130, voltamos para a galeria e ficamos tomando umas brejas por lá, quando deu o horário, começamos a caminhar em direção ao píer. Foi quando decidimos que iríamos sair, nem que tivéssemos que voltar só no dia seguinte, pois o bote não nos buscaria após o horário limite. Pegamos um taxi para a tal da Calle Uruguai, detalhe aqui é pior local para negociar com taxista, pois apesar de ter uma tabela feita pelo sindicato, eles sempre cobram a mais e dizem que não tem ou não conhece a tabela. Resultado sempre rola discussão antes de entrar no taxi. Chegamos a tal rua e começamos a ver onde entraríamos. Fomos tentando entrar em todos os lugares, mas não nos deixaram pois estávamos de bermuda, resultado taxi e discussão para voltarmos para o barco, detalhe que ainda tínhamos que dar um jeito de chegar no barco. Por sorte uns 40 minutos depois que chegamos um casal de canadenses chegou, pedi carona e eles prontamente nos salvaram. Chegamos no barco umas 2230.

Quinta

Fiquei no barco o dia todo. Eu, Caetano e Lito lavamos o costado, para variar, durante a lavagem um ficou empurrando o outro na água!! Levei o resto do pessoal para o píer fiz peixe grelhado com batata para o almoço e fomos à internet. O pessoal retornou umas 1730, voltamos todos para o barco, com uma ótima noticia. Um dos procedimentos da burocracia da Polinésia Francesa é fazer um depósito do valor de uma passagem para a sua terra natal ou apresentar uma passagem, detalhe o valor é em torno de U$ 2500 a 3000. O detalhe é que eles devolvem o dinheiro somente em algumas ilhas e na moeda que o banco local tiver. Na ultima vez que Aleixo esteve por lá devolveram o dinheiro com uma semana de atraso e em 3 ou 4 moedas diferentes, acaba sempre perdendo um pouco no cambio. Então descobrimos que uma revista americana organizou um encontro de veleiros no Thaiti em junho e para quem tivesse escrito no evento poderia realizar um procedimento através de um agente na Polinésia que o barco pagaria U$ 100,00 e receberia uma carta do agente isentando do tal depósito. A ótima noticia é que conseguimos nos escrever!!!

Assim que chegamos no barco, eu, Caetano, Jeff, Lito e Ana voltamos em terra para sair para correr, foi muito bacana, apesar de perceber que as pernas estão moles!! Voltamos ao barco cada um fez um sanduíche, jogamos xadrez e fomos dormir.

Sexta

Hoje iniciamos a organização para zarparmos para Galápagos. Parte da tripulação foi efetuar o depósito e o envio dos documentos para o tal agente. Novamente fiquei pelo barco, fui até a marina dei uma volta na tal galeria e a tarde fui correr novamente e esperar o pessoal voltar das compras. Assim que chegaram fomos para o barco organizamos as compras e sentamos para conversar com Aleixo para ele liberar o bote para que nós pudéssemos ir para a balada todos juntos, ele consentiu e todos começaram a se arrumar, saímos umas 2230. Como a Zona Viva era próxima resolvemos ir caminhando, pois não valia a pena pagar taxi e o ônibus não sabíamos quanto iria demorar, só não contávamos com o vento acabar e fazer um calor danado, tivemos que tirar a camiseta e ainda assim chegamos ensopado na balada. O local é muito bacana. É uma antiga vila americana da época da construção do canal, hoje virou de um lado um centro de convenções e do outro uma rua de mais ou menos um quarteirão e meio com varias discotecas e bares de um lado e de outro. Chegamos e andamos a rua toda, acabamos parando num quiosque onde tinha cerveja barata. Tomamos umas e começamos a conhecer as baladas, a maioria das baladas não paga para entrar, nessas entramos em todas. As musicas são bem variadas, mas não da pra beber dentro das balada é muito cara. Em Colón na conveniência a cerveja era 60 centavos de dólar, na conveniência da galeria era 1,00 U$ no quiosque 1,75 e dentro da balada de 3,00 a 4,00, nada fora do normal, mas como podia entrar e sair quando quisermos, ficamos entrando e saindo dos lugares e parando para tomar uma no meio do caminho. Voltamos para o barco umas 0430.

Sábado

Hoje era o meu dia de fazer café, levantei umas 0800 e preparei mingau e coloquei a mesa do café. Todos acordaram com aquela cara, mas não tínhamos do que reclamar, pois sabíamos que teríamos que acordar cedo para afazer as funções. Eu, Lito, Aleixo e Jeff fomos para a Ceasa local abastecer de frutas e verduras, tarefa penosa, pois estava um calor lascado e tínhamos que carregar saco de laranja, limão, cebola entre outras em menor quantidade. O que nos salvou foi um caldo de cana geladíssimo!! Após colocarmos tudo no taxi fomos almoçar e levar tudo para o barco. Chegamos no barco e começou a seleção e lavagem das frutas, pois parte vai para a cozinha e parte fica no porão de proa. Inclusive usamos a expressão: - Vamos a feira!! Quando vamos no porão de proa reabastecer a cozinha de frutas e verduras.

Assim que terminamos, voltei a sair desta vez eu, Aleixo, Jeff e Ana, fomos no shopping usar a internet, sugeri usar a net na galeria que era de graça e não tinha que pegar taxi, mas Aleixo queria que fossemos ao shopping e como ordem de capitão não se discuti, fomos para o shopping. Entrei na net peguei a previsão e aproveitei para mandar uns emails. Voltamos para o barco somente eu e Aleixo pois os outro ficaram no shopping. Coincidentemente encontramos com Paulo no shopping, ele tinha ido na fedex despachar os dvd´s com os programas sobre a viagem para a Globo Bahia que exibe um episodio por domingo. Ele também ficou no shopping. Voltamos par ao barco pois tínhamos que liberar Caetano que estaria de folga após as 1700, levei ele em terra e voltei para o barco para finalizar umas roupas que tinha que lavar e fazer o jantar. O pessoal que estava na rua tinha que voltar no bote das 2000, jantamos as 1800 e como eu estava pregado fui dormir e deixei a incumbência de buscar o pessoal para Lito. Dormi até as 0700.

Domingo

Acordamos, tomamos café e fui lavar a louça. As funções domesticas são divididas da seguinte forma: Um dia cozinha, no dia seguinte lava e temos 5 dias de folga até o próximo dia de cozinhar. Começamos a tirar as defensas do paiol de proa, preparar as amarras para atracação no píer pois vamos abastecer de água e diesel as 1100. Estávamos pronto as 0900 entao fui até a marina de bote para checar a possibilidade de atracarmos mais cedo. Só poderíamos adiantar em 30 minutos pois um barco de passeio que vai para a ilha de Taboga, partia as 1030 e tínhamos que esperar ele sair. Ficamos jogando xadrez enquanto esperávamos. Na hora da atracação fui na frente com o bote para estar no píer quando o Fraternidade chegasse. A manobra foi tranqüila. Abastecemos com 400 galões de diesel e uns 1500 litros de água. Foi o tempo exato, pois saímos do píer as 1155 e as 1200 encostava outro barco de passeio.

Iniciamos o rumo a Galápagos, fiquei amarrando o bote durante a saída do ancoradouro. Aleixo tinha comprado um celular local e como tinha sobrado bastante crédito, começou um revezamento entre a tripulação para ligar para o Brasil, tínhamos 3 minutos cada, imagine a argumentação quando chegava a 0310 minutos rsrsrs. Cada um conseguiu falar uma ou duas vezes ai acabou o crédito. Como o vento estava em torno de 8 knots na popa ficamos no motor as primeiras 18 horas de vez em quando abríamos a genoa e ganhávamos de ,5 a 1 knots.

Tive ainda que lavar a louça do almoço e do jantar.

Segunda-feira

Dia de folga da cozinha, é só comer, colocar o prato no balde e ir fazer o que quiser, rsrsrs!!

Logo cedo o vento entrou e desligamos o motor e subimos todo pano, o barco anda a 6,5 knots com os 12 knots de vento aparente pela alheta, sugeri colocar o geniker. Sugestão não aceita. Vamos aguardar o vento diminuir para colocar. Tomamos café e aproveitei para escrever um pouco.

Continuo com o turno das 0900 ás 1200 e 2100 as 2400 sozinho. A primeira noite foi um pouco cansativo pois não dormi nada durante o dia e tinha desacostumado a ficar no turno depois de vários dias sem navegar. Hoje devo descansar depois do almoço para não sentir sono no final do turno.

Conhecemos um pessoal de um barco americano, muito legal o pessoal e devemos encontrar-los em quase todas as paradas no pacífico, já que, estamos fazendo o mesmo percurso.

Conhecemos também uma família australiana que comprou o barco na Bulgária e está levando para sua terra natal. As crianças devem ter uns 6 a 8 anos e o menino já pilota o bote sozinho. Muito bacana o esquema deles. Foram eles que nos deram a dica sobre o evento no Thaiti.

O vento diminuiu, subimos o geniker, ficamos umas duas horas com o vento de través, depois rondou para popa. Montamos asa de pombo com o geniker e grande, abaixamos a mezena. Como o mastro principal do Fraternidade tem dois estais laterais entre o mastro e a triqueta o pau do balão não chega a 90 graus em relação a proa e não estava funcionando bem a assa de pombo pois não abria o suficiente a vela. Sugerimos ao Aleixo que soltasse o pau do mastro e passasse pela proa do estai mencionado e encaixasse no mastro novamente. Ele ficou meio ressabiado, pois o pau fica em um vão pequeno entre o estai mencionado e o estai lateral, mas aceitou a sugestão. Fizemos a manobra e o barco respondeu muito bem, andando 4,5 a 5 knots com vento real de 12 knots em média. A tarde foi bacana, pois tivemos bastante ação a bordo para executar todas as manobras e ajustar finamente as velas já que o vento vairava bastante. Inclusive em certo momento antes da manobra o piloto automático se perdeu então ficamos um bom tempo com alguém revezando no timão. No final do dia o vento acabou completamente, enrolamos o geniker, baixamos o pau de spy, ajustamos as velas no centro do barco e ligamos o motor, quase que pela noite toda. Nos turnos que havia duas pessoas o piloto auto ficou desligado. Quando chegou meu turno, começou a ventar de6 a 9 knots, desligamos o motor ligamos o piloto automático, Aleixo e o pessoal do turno anterior desceram para a cabine e eu fique trimando as velas enquanto o barco fazia de 3 a 4,5 knots ao som de Chico Buarque. Meu turno foi bastante movimentado pois o vento variava entre 55 a 80 graus de aparente. Quando o vento chegava mais perto do través dava para abrir bem a genoa e ganhávamos rendimento, mas quando vinha mais orçado tinha que enrolar um pouco a genoa para não bater no estai lateral.

terça-feira 16/03

Acordei para o café da manhã, na verdade fui acordado. Todos os dias me acordam para o café. O bom do turno que estou agora é que vou dormir as 0000 0030 e acordo as 0700, o que permite um sono longo durante a noite, que é mais fresco e está escuro. Garantindo disposição para ficar o dia todo acordado.

O motor foi ligado durante a noite, não tenho certeza em que turno. Nesta perna sempre vamos motorar com uma maquina só e a 2400 rpm, que quando o mar ta liso garante 6 knots de velocidade e se entra um mínimo de vento vai para 7 a 7,4 knots. Se mantivermos essa média chegaríamos em 4 dias em Galápagos, mas é muito diesel consumido então sempre que tiver pelo menos 7 knots de vento que garanta 3 knots de velocidade, vamos desligar o motor e velejar.

Hoje completou 2 meses de viagem, para comemorar pegamos um dourado de uns 8 kilos. Pena que o almoço já estava pronto!!! Galinha assada comprada no Panamá com repolho e purê de batata doce e inglesa, estava muito bom, mas o peixe fresco seria melhor. Não desanimamos pois sabemos que hoje a noite tem ou moqueca ou peixe grelhado, vai depender do cozinheiro. O divertimento principal de grande parte da tripulação agora é o xadrez, acho que jogamos em média umas 15 partidas por dia. Por enquanto estou em segundo, só perco para Aleixo, mas não é sempre não. Vou aproveitar que não tem mais muito para escrever e treinar um pouco xadrez com o computador e depois estudar Frances.

O vento variou o dia todo, revezamos entre motor e vela, sempre que velejamos, dificilmente conseguimos rumar Galápagos.

No meu turno a noite estávamos navegando de 3 a 4 knots com 30 a 40 graus fora do rumo, pois o vento estava contra. Como o vento varia muito, sempre estamos regulando as velas, ajustando o rumo e quando para tudo ligamos o motor.

Quarta feira

Hoje logo após o café fui para a minha cabine tentar dormir um pouco, mas não consegui. Voltei para o convés, ainda estávamos motorando, percebi que o vento soprava uns 7 knots, sugeri tentarmos velejar com o geniker, apesar de termos que orçar, acreditava que devido ao corte dele seria possível velejarmos em torno de 60 graus de vento aparente. Içamos a vela e funcionou, começamos a velejar entre 3 e 4 knots de velocidade com o vento aparente a 55 a 60 graus. Porém estávamos fora do rumo uns 30 graus. Mesmo tendo que orçar para chegar no rumo, vale a pena manter o geniker no ângulo mencionado, pois com a genoa, atingimos 45 graus de vento aparente desde que ela esteja 50% enrolada, que não desenvolve boa velocidade no vento fraco. Estávamos felizes com a velocidade e ângulo obtido com a nova regulagem. Pouco antes do almoço o vento começou a aumentar, quando atingiu 14 knots, velejávamos a 5,5 a 6 knots, Abri a triqueta que fica no baby stay, ficou bom, mas aumentou um pouco a velocidade. O vento continuou aumentando, chegou a bater 19 knots e o barco navegava a 7 e tantos knots, chegando a 8 de vez enquando. O barco começou adernar um pouco. Mas estava muito equilibrado, estava bonito de ver. Queria muito ter outro barco próximo para poder tirar uma foto do Fraternidade com 4 velas içadas, foi a primeira vez que estive em um barco com 4 velas içadas. Estávamos eu Lito e Thuca no convés neste momento. Estávamos maravilhados com o desempenho do barco. Foi quando percebi que o vento poderia aumentar devido a uma formação tipo um Pirajá. Então enrolamos a triqueta, abri um pouco a genoa, arribamos e começamos a enrolara geniker, deu um pouco de trabalho para enrolar, já que tínhamos arribado pouco, mas baixamos a vela e tudo estava tranqüilo. Abrimos mais a genoa, o vento rondou e navegávamos a 5,5 knots no rumo, neste momento tínhamos 22 knots e 45 a 50 graus de vento aparente, pena que durou pouco. As 1500 começou a rondar o vento e diminuir, estava dormindo e começou a dar uns sprays no convés, razão para fechar todas as gaiutas, o barco ficou muito quente e acordei. Fui para o cockpit e fiquei trocando idéia com Caetano e Jeff. Tínhamos que alterar o rumo a cada 20 min, pois o vento rondava muito devido a uma grande formação de chuva a barlavento. Vamos aproveitar, pois hoje tem banho de água doce à vontade. Assim que começou a chover, rolou um banho coletivo. Aproveitei para lavar minha camiseta e bermuda oficial de travessia, digo oficial, pois chego a ficar uns 7 dias com essa roupa durante o dia, tenho outra para dormir, mas para ficar no convés, uso sempre a mesma, se não quando chegar no porto tenho que passar o pouco tempo que tenho lavando roupa, a sorte é que não uso roupa de algodão. A técnica é nunca deitar na cama com essa roupa!!! E a chuva continuava. Durou aproximadamente 3 horas. Durante a chuva o vento rondou muito, o barco checou a cambar involuntariamente e na sequencia o vento diminuiu muito. Ligamos o motor, colocamos o barco no rumo e fomos ajustando as velas para ajudar um pouco o motor. Passado totalmente a chuva jantamos macarrão cosido com o mingau que sobrou do café da manhã. Meu turno foi tranqüilo, o tempo todo no motor, mas sempre regulando a grande e a mezena para ajudar.

Quinta feira

Acordei para tomar café, ficamos conversando até começar a chover. Fomos todos tomar banho. Porém a chuva durou muito tempo, umas 5 horas. O bom foi que no inicio do meu turno a chuva trouxe vento, abri a genoa desengatei o motor, o barco navegava a 6,5 knots, melhor que no motor. Desliguei o motor e passei a ajustar as velas a cada rondada do vento. Como chovia muito, estava sozinho no convés, o vento aumentou e chegou a 20 knots com 90 graus de vento aparente, o barco navegava a 8,5 a 9 knots. A chuva passou e o vento continuou. Porém um pouco mais fraco, uns 16 knots o barco velejava de 6 a 7 knots. Almoçamos e o ventou continuou a diminuir, sugeri colocar o geniker, Aleixo resolveu esperar diminuir a formação de nuvens a barlavento. Fui dormir, pois estava cansado da chuva e quantidade de regulagens de velas que fiz durante o meu turno. Aleixome acordou umas 1500 para colocarmos o geniker para cima. Içamos a vela, mas não conseguimos desenrolar, tinha embolado um pedaço do meio da vela e não desenrolava de jeito nenhum. Baixamos a vela e tentamos desenrolar no convés, mas como a vela é muito grande, o vento atrapalhava a manobra, decidi então levar ela para dentro da cabine e esticar nos dois corredores internos, foi fácil desfazer o embaraço. Aproveitei para diminuir o cabo da testa, pois a amura da vela ficava a um palmo do enrolador, dificultando para enrolar e deixando a vela muito frouxa na testa. Terminei tal modificação, ensacamos sem enrolar a vela, levamos para o convés e içamos. Em minha opinião acho que tendo uns 4 tripulantes, é mais fácil trabalhar sem o enrolador, pois a vela subiu muito bem. Trimei o geniker, ajustei a mezena e grande, o barco começou a fazer entre 3 a 5 knots com o vento variando entre 7 e 10 knots com ângulo de 140 aparente. O que nos forçava a fazer rumo sul e não sudoeste rumo a Galápagos. Não era de todo mal navegar fora do rumo para o sul, pois a previsão de vento e a tendência do vento local indicada pelo pilot chart, dizia que mais Ao sul tínhamos mais vento. Já era 1700 e ficou a questão. Devemos abaixar o geniker a noite ou não? Sugeri que mantivéssemos pois a previsão era de vento fraco e o horizonte estava bem limpo. Aleixo disse que deixaria desde que eu dormisse na cabine de comando para acudir mais rapidamente qualquer grande variação do vento. Disse que não teria problema, peguei minha coberta e meu travesseiro e fui para a cama do piloto, eram 1900 e meu turno começava as 2100, tentei dormir mas não consegui, fiquei rodando na cama. Sabia que não era bom, que ficaria com sono no turno, mas não conseguia tirar o olho dos instrumentos. Assumi o turno as 2100, o vento rondou um pouco para a proa e consegui aproximar nosso rumo para Galápagos, mas ainda íamos mais para o sul, o vento aumentou a intensidade e navegávamos a 5 knots quase que constantemente. O turno foi tranqüilo, poucas alterações no rumo e quase não alterei as velas. Passei o turno para Lito e fui para a cabine de comando, até antes de deitar estava fazendo força para não cochilar, impressionante, mas foi deitar na cama e não conseguir pregar o olho, levei uns 40 min para conseguir dormir. Lá pelas 0430 da manha acordei com Caetano e Jeff conversando, neste momento já velejávamos em rumo a Galápagos. O vento estava em 80 graus de aparente, tive que levantar e orientar o pessoal do turno a regular as velas, voltei para a cama, levei um tempo para dormir.

sexta-feira

Me acordaram para o café da manhã, comi e logo voltei para a cama, tinha dormido muito pouco durante a noite e não demorou muito e cai no sono, apesar do barulho do pessoal. As 0830 acordei com o calor, pois ainda estava de calça de moletom e camiseta de manga comprida, como não tinha mais tempo de dormir antes do meu turno, me preparei para o turno e fui para o convés. O vento agora é Sul puro e velejamos a 60 graus de aparente com intensidade variando entre 9 e 11 knots o barco navega de 4 a 5,5 knots com a proa no rumo desejado. O vento agora só não pode rondar para sudoeste, que vai dar na cara, apesar de não ser um vento comum nesta época do ano por aqui, tivemos um pouco de sudoeste um ou dois dias atrás. Tivemos Lentinha com calabresa, arroz, salada e farinha de mandioca para o almoço e chocolate de sobremesa. Após o almoço estudei a carta de detalhes de Galápagos com Aleixo e Caetano, após decidir nossa rota de aproximação, conversamos sobre a continuação da viagem, fizemos contas das distancias entre o Thaiti e a Indonésia, pois temos que cruzar o Indico, seja pelo cabo da boa esperança ou pelo canal de Suez até o final de novembro, pois em dezembro começa a época dos ciclones na região. Percebi que infelizmente não devemos passar pela Nova Zelândia, pois atrasaria muito a viagem. Aleixo se demonstrou com grande intenção de ir pelo canal de Suez apesar do risco dos piratas da Somália, chegou até a mencionar: - Dou a opção de quem quiser ir e quem não quiser desembarca, mesmo que tenha que ir sozinho!

Tenho que ir devagar com minhas expectativas, pois só estou confirmado até o Thaiti e mesmo que eu consiga continuar no barco, tenho que conseguir o visto da Austrália, dizem que está difícil conseguir. Vamos aguardar as coisas acontecerem com calma.

Desde a partida da Cidade do Panamá, hoje completou a primeira vez que conseguimos velejar por mais de 24 horas e nem foi forçando muito a barra, pois navegamos 110 milhas nas ultimas 24 horas. E daqui a pouco vai virar 24 horas de geniker içado. Essa sim é uma marca importante, pois percebo que Aleixo está ganhando mais confiança em deixar o barco andar. Foi fato que para isso tive que passar a noite na cabine de comando. Mas ta valendo.

Durante a tarde o vento diminuiu e veio na cara, velejamos no limite da orça, aproximadamente 58 graus de vento aparente e de 3 a 4 knots de velocidade, acredito que chegaremos na segunda pela manhã caso o vento não acabe de vez, minhas esperanças de chegar no sábado final do dia se acabaram, para isso precisaríamos navegar dois dias a 6ª 7 knots e nas primeiras 6 horas navegamos entre 3 e 4, pode ser que o vento melhore, mas acredito na opção mais conservadora. Por mais que cheguemos próximo a Ilha de San Cristóbal, nosso primeiro porto em Galápagos no sábado a tarde, vamos diminuir a velocidade independente do vento para chegarmos pela manhã de domingo.

Para o jantar tivemos arroz com lentilhas e calabresa que sobrou do almoço, mas para compensar tchuca fez um bolo de chocolate que estava maravilhoso, pena que ficou com gosto de pouco. O nível da carga das baterias está baixo, por isso o gerador foi ligado, aproveito para carregar o notebook, jogar xadrez e atualizar o blog.

Em meu turno o ventou continuou fraco, raramente passávamos de 4,5 knots de velocidade. Na primeira hora, tchuca e Jeff me fizeram companhia, ficamos fazendo alongamento. As outras duas horas foras fiquei ouvindo musica e alterando o rumo conforme o vento rodava. Passei o turno às 0000 para Lito e fui dormir. Resolvi dormir na minha cabine, pois na cabine de comando não consigo dormir bem, tem muita luz dos instrumentos além do movimento constante das pessoas no turno. Aproximadamente as 0200 Lito veio me chamar, o vento aumentou para 17 knots e Aleixo estava pensando em baixar o geniker, quando todos que estavam dormindo chegaram no convés, o vento tinha baixado para 15 knots, aguardamos um pouco a passagem de uma nuvem escura que estava a barlavento. O vento diminuiu para 14 knots. Voltamos todos para a cama, não passou 20 minutos e nos chamaram novamente. O vento estava novamente em 17 knots, Aleixo comunicou que baixaríamos o geniker e abriríamos a genoa. Pedi para Aleixo arribar para uns 120 de vento aparente. Abrimos um pouco a genoa, folgamos a mezena e o grande para facilitar o barco arribar e fui para a proa preparar para a manobra. Jeff, que estava caçando a genoa ficou para folgar a escota do geniker, Caetano foi para a adriça eu e Lito ficamos para enrolar e baixar o geniker. Pedi para Jeff folgar a escota e comecei a enrolar o geniker. Assim que estava com a esteira toda enrolada, pedi para Caetano estourar a adriça. Comecei a recolher a vela com lito. A manobra foi rápida, eficiente e não demandou esforços, pois diferente das outras vezes, quando pedi para estourar a adriça, Caetano deixou a vela descer com velocidade. Facilitando a recolha. Das outra vezes quem estava na adriça sempre ficava segurando na catraca a descida, forçando quem estava recolhendo a vela fazer muita força para puxar a adriça que estava enrolada na catraca. Com a vela no convés disse para Aleixo que ele já podia orçar, com intuito de não perdermos barlavento. Ensaquei a vela, guardei no porão de proa e fui ajudar na regulagem fina das velas. Ficamos uns 15 minutos para acertar as 3 velas. A genoa consumiu mais tempo, pois na orça temos que regular o tanto que vamos desenrolar, para não ficar pegando no estai nem ficar muito pequena, pois alem de não desenvolver velocidade, o barco fica desequilibrado, forçando o piloto automático. Terminada a manobra tentei dormir, mas não consegui, estava acelerado, voltei para o convés, conversei um pouco com Aleixo e Lito, comi uma sardinha enlatada, as 0300 trocou o turno. Agora estava Jeff e Caetano, fiquei conversando um pouco e fizemos algumas contas. Se conseguíssemos manter uma média acima de 5 knots de velocidade nas próxima 40 horas, conseguiríamos chegar em San Cristóbal no domingo final do dia. Fui dormir.

Sábado

Jeff me acordou as 0600 da manha, hoje é meu dia na cozinha, tenho que preparar o café da manhã. Fiz mingau de aveia, chá, cortei mamão e preparei a bandeja com: Leite em pó, iogurte, ovomaltine, manteiga, geléia, coquitos (uma bolachinha meio doce), torradas, capuchino, café em pó e mais alguma coisa que não to lembrando. Levei para o convés, acordei quem estava dormindo tomamos café. Durante o café percebi que a adriça da grande tinha escorregado um pouco no mordedor e que a vela estava com a testa folgada. Aproveitei Lito que já tinha comido e adriçamos o grande, não tirei da catraca, pois se tirar vamos perder o trabalho. Agora vou aguardar meu turno começar, enquanto isso vou tentar dormir um pouco.

No meu turno não tive novidades, o vento continuou fraco e sempre que possível orçávamos um pouco. Preparei um refogado de repolho com batata cozida e galinha assada. Após o almoço o vento diminuiu mais e içamos o geniker, não havia mais esperanças de chegar no domingo a tarde, arribamos um pouco para o geniker poder funcionar e nos arrastávamos a 3,5 knots fora do rumo. Decidimos que iríamos fazer o barco andar o que podia até acabar o vento, que a previsão tirada via iridium dizia que seria no domingo à tarde. Acabou meu turno começamos a faxina pré porto, decidimos fazer a faxina do barco ainda em água, para não perdermos tempo nesta função em terra. Terminada a faxina, preparei o jantar, caldo de abóbora, quando Aleixo passou pela cozinha se tornou caldo de abobora com a sobra do mingau que sobrou do café e fui dormir, estava muito cansado das duas ultimas noites mal dormidas e a chuva que tomei há dois dias. Nem jantei, pedi para deixarem um pouco para mim e que me acordassem na hora do meu turno. 2100 me acordaram como o clima estava um pouco frio, apesar de estarmos próximo ao equador, devido à corrente de Rumbolt que se origina na Antártida e sobe pela costa do Chile, Peru e se desloca para o oeste na linha do equador. Esta corrente é responsável pela troca de calor entre o pólo sul e o equador. Essa mesma corrente que é responsável pela grande quantidade de neblina próxima a Galápagos. Foi a primeira vez na viagem que peguei um suéter de lã, alem de calça de moletom e tênis para fazer o turno. O geniker já tinha sido baixado quando assumi o turno. O vento melhorou um pouco tanto na intensidade quanto na direção. Passei o turno para Lito e fui dormir.

Domingo

0630 fui acordado para o café, mas não compareci de imediato, ainda fiquei um pouco na cama,mas como era meu dia de lavar a louca acabei subindo umas 0730, o que foi uma pena, pois se tivesse demorado mais 15 minutos para subir teriam lavado a louça para mim!!! Tomei meu café, hoje foi cuscuz e iogurte com granola, lavei a louça e voltei para a cama, para aguardar meu turno. 0900 fui para o turno, o vento estava muito fraco uns 7 a 8 knots o barco navegava a 2,5 a 3,3 knots. Decidimos que ligaríamos o motor as 1300 e diminuiríamos a marcha a noite para quando clareasse estarmos a umas 30 milhas de terra. Distancia que mínima que Aleixo gosta de manter de terra durante a noite. 1200 Caetano serviu o almoço, arroz integral com galinha e salada de repolho com pepino e de sobremesa abacaxi. Joguei umas partidas de xadrez com Lito e aproveitei que o motor estava ligado para assistir Macunaíma no computador. Depois do filme dormi mais umas 3 horas, só acordei para o jantar. Após lavar a louça começou uma sessão de alongamento foi muito boa para soltar um pouca as juntas que depois de dormir tanto para tirar o atraso estavam todas travadas. O turno chegou a ser chato, pois não tinha nada para fazer e para ajudar estava nublado, nem para estudar as estrelas e tentar ver umas cadentes não dava. As 0000 passei o turno para Lito, e fui dormir, certo de quando eu acordasse já estaríamos com Ilsa de San Cristóbal no vizual.

Acordei umas 0600 fui para o convés e avistei pela primeira vez uma das ilha do arquipélago de Galápagos além de um nascer do sol fantástico. Ficamos admirando a paisagem, tomamos café. Terminado o café iniciou uma arrumação geral a bordo, pois nas ultimas vezes que Aleixo esteve aqui, os oficiais vieram a bordo para dar entrada na papelada da imigração e outras necessárias. Aqui parece que até dedetização teremos que fazer. Fica a duvida se é para preservação ou para poderem cobrar uma taxa a mais. Agora vou subir para ficar no visual da ilha.

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