sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Granada

Fui acordado para o turno as 2350, quando cheguei no cockpit percebi que a mesena havia sido toda arriada, o grande estava no segundo rizo e a genoa quase toda enrolada, com o intuito de diminuir a velocidade do barco, já que o vento havia aumentado e se continuássemos nesse ritmo chegaríamos ao porto de natal a noite. Apesar de bem sinalizado, Aleixo prefere não a portar a noite, principalmente neste pois teríamos que escolher o local adequado para lançar ancora e funderar o veleiro.


21/01/10
O turno foi tranqüilo, aproveitamos (eu, Ana e Jeff) para estudarmos um pouco das estrelas, utilizando o programa Stellarium no comp do Jeff, foi muito interessante, o difícil é gravar o nome de todas as estrelas!!! Finalizamos o turno e fomos dormir. Quando acordei para o café, já estávamos no través de Natal tivemos então que empopar e colocar o pau de spy na genoa para abrir a asa de pombo. A entrada do porto foi tranqüila, porém a ancoragem foi feita sem muita calma, o que gerou a necessidade de lançar a ancora 3 vezes no primeiro dia e 1 no segundo. A primeira o ferro não unhou, a segunda percebemos que estávamos dentro do canal de saída de navios, que fica bem próximo ao yacht club. Na terceira, percebi que continuávamos dentro do canal, mas uma vez fiquei quieto, pois percebi a euforia a bordo no momento. Baixamos o bote e parte da tripulação foi ao clube dar entrada do barco. Organizamos e encapamos a vela, soltamos a ancora de popa, para evitar que o barco gire na mudança da maré e bata em outros barcos menores. Fomos todos em terra tomar banho com água doce a vontade. No final do dia eu, Samirah, Lito e Caetano fomos dar uma volta na redondeza do clube, paramos em uma padariazinha e fizemos um lanche, muito barato, cada um gastou em média R$3,00. Voltamos ao clube, uns estavam aproveitando a net wireless outros jogando conversa fora, neste dia ninguém saiu a noite. Quanto ao assunto de sair a noite, estávamos todos apreensivos, uma vez que não sabíamos como seria a questão de horários para voltar, principalmente pois o barco na fica no píer, precisando do bote de apoio para voltar ao barco. Aproveitei para fazer um brigadeiro, como éramos muitos fiz 2 latas de Leite condensado e uma de creme de leite. Como o pessoal é preocupado com o físico, acabou sobrando mais para mim. Mas acabou não me fazendo muito bem e fiquei com revertério no dia seguinte.
22/01/10
Na sexta nos dividimos em três grupos, um para faxina interna do barco, outra para a ajudar a fazer compras de produtos frescos e a terceira para se encarregar de arrumar o enrolador da triqueta (peq vela de proa, utilizada com muito vento), apesar de conturbado, todas as funções foram realizadas com eficácia. Em comemoração Aleixo convidou a todos que estavam no barco para comer carne de sol em um restaurante distante uns 5 km do clube, que só descobrimos quando chegamos lá, pois a informação que tínhamos era que levava 10 min caminhando. Como o sol rachava, paramos no caminho para tomar água de coco, também patrocinada por Aleixo. Na volta do restaurante, pegamos um taxi, pois Ligia estava para chegar com as compras e precisaria de ajuda para levar os suprimentos para o barco. Finalizado as tarefas eu e Caetano fomos correr, decidimos correr o quanto agüentarmos e voltar caminhando, para assim conhecer o máximo possível da orla de Natal. Na volta, o brigadeiro deu o ar da graça e como dizem por aqui tive que parar num posto para dar uma “barrigada”!!! Voltamos para o clube, tomamos banho e ficamos confabulando sobre o que fazer no dia seguinte.
23/01/10
Acordamos bem cedo e fomos acompanhar Jeff no surf, quando chegamos la, alem das ondas estarem meia boca, a praia estava totalmente deserta, Jeff entrou na água e eu e Caetano ficamos olhando o movimento quase inexistente. Quando decidimos ir para a praia de ponta negra. Pegamos um ônibus, chegando lá compramos uma garrafa de 1,5lt de água e tomamos quase toda de uma vez, devido ao calor, saímos para caminhar pela orla da praia. Caetano precisava comprar dólares então entramos em uma casa de cambio e enquanto ele conversava com a atendente, mesmo sabendo que não ia comprar ali devido ao cambio, aproveitei para encher a garrafa de água gelada no bebedor da loja. Desistimos de andar pela orla e fomos caminha na praia, que estava lotada, primeiro fomos em direção ao morro do careca, onde só víamos gringo e puta na praia, depois fomos para o outro lado da praia que tinha um publico mais bacana, apesar da praia extremamente lotada, paramos e pedimos para duas moças que estavam tomando sol olhar nossas coisas para podermos nadar, uma vez que os quiosques cobravam para sentarmos. Ficamos um tempo pegando jacaré apesar das ondas pequenas foi divertido, quando saímos do mar, tínhamos que dar um jeito de tomar uma ducha para tirar o sal, pois o caminho de volta era longo. Com total cara de pau, fomos na ducha do quiosque onde deixamos nossa mochila, porém enquanto eu tomava ducha o garçom passou e disse que para quem não estava na barraca tinha que pagar, como já estava debaixo da água, aproveitei e finalizei minha ducha, como a carteira estava na mochila, fomos andando até nossas coisas, mas Caetano não tomou ducha. Quando fomos pegar nossas coisas aproveitamos para pegar informações sobre o que fazer na cidade, acabamos ficando um tempo trocando idéia e descobrimos um local que rolava um forró. Tínhamos que voltar até a 1300 para o barco pois dissemos que voltaríamos para o almoço, o que foi uma grande besteira, pois quebrou o dia. Pegamos um ônibus para voltar, pois o mesmo atravessava o centro da cidade demorou tanto que deu ate para cochilar. Chegamos no barco com 30 min de atraso, estávamos apreensivos pois ainda não sabíamos como era a questão de horário, mas tava tudo tranqüilo. Almoçamos e decidimos descansar um pouco, pois tínhamos caminhado muito naquela manha. Acabei que fiquei de baldeando a turma no bote o resto da tarde. No início da noite tomei banho e saímos eu, Samirah e Caetano para o tal forro, mesmo sem saber que horas tínhamos que voltar, pois não conseguimos um momento tranqüilo para conversarmos com Aleixo ou Ligia. Decidimos então voltar as 2300, pois nos disseram que o forró começava umas 2100, quando chegamos no local, conhecido como rua da salsa, descobrimos que chegamos extremante cedo e tudo ainda estava abrindo e que o forró só começava as 2330 ou 0000. Paramos par tomar cerveja em um boteco e trocar idéia, foi muito bacana. La pelas 2200 fomos para um outro bar que tocava pagode ao vivo. Samirah e Caetano dançaram a beça, eu ainda tentei, mas sem sucesso. Conhecemos umas pessoas, inclusive 2 médicas gauchas maravilhosas, mas como já era 2230 e tínhamos que pegar o ônibus as 2310 nem dei muita atenção. Na volta o ônibus atrasou e só passou as 2330, chegamos umas 0020 e o bote do Fraternidade já tinha sido recolhido e como não queríamos incomodar ninguém, decidimos pegar uma canoinha de madeira que estava no píer e devolver pela manha bem cedo. Como só tinha um remo fui remando com os três na canoa contra a correnteza, quando conseguimos chegar no barco, vi que tinha um rapaz com um bote motorizado no píer, aproveitei para devolver a canoa e pedir uma carona de volta.
24/01/10
Estava escalado para levar água doce para o barco, eu e Caetano levamos 6 viagens de 10 galões de 20 litros, totalizando 1200 litros de água, a tarefa foi muito cansativa só terminei na hora do almoço, tivemos a ajuda da Ana que ficou responsável por encher os galões enquanto nos carregávamos para o barco e esvaziávamos no tanque do barco. Chegamos a desenvolver técnicas para evitar cansaço desnecessário, pois carregamos o equivalente a 1,2 toneladas. Almoçamos e descobrimos que tinha um show da Daniela Mercury as 1400 na praia, decidimos ir eu, Lito e Samirah, sabendo que essas programações normalmente atrasam, fomos para la umas 1500, passamos no caminha para tomar um picolé de 25 centavos, que já tinha tomado no dia que sai com Caetano para correr. Chegamos no local do show e vimos um show de horror, imagina show de graça na beira da praia a frequência que estava, decidimos ficar em um lugar na sobra e mais tranqüilo para esperar o show quando foi 1600 a Samirah desistiu e foi embora, nisso Lito se animou e falou para darmos uma volta, para não deixá-lo sozinho, acompanhei, paramos para tomar cerveja e comer um churrasquinho, era 1700 e nada do show, foi quando Lito tomou o caminha da multidão, paramos ao lado de um rapaz com um isopor e ficamos esperando o show começar. Conhecemos varias pessoas, todas de Natal, parte delas muito bêbadas e bem engraçada, foi o momento que Lito falou que tinha que ir no WC e pediu que eu o esperasse ali, não sei pq acabei aceitando e fiquei no meio da multidão esperando por ele, acabei conhecendo uma turma mais animada e começamos a todos pular quando entrou a banda de abertura do show, fiquei mais um pouco e como Lito não apareceu fui embora. No clube estavam todos uns na net outros na piscina. Tomei banho, quando voltei ao clube percebi que o clima estava pesado, pois havia rolado mais um stress entre a família, pouco depois Aleixo passou e deu uma chupada sem necessidade no Caetano, onde todos ficaram abalados, neste momento aproveitei para sair com Lara e Lito, fomos ao mesmo local da noite anterior, foi bacana pois conversei muito com Lara e pude entender um pouco sobre as questões da família, também conversei com ela sobre meu desapontamento momentâneo sobre o projeto. Pegamos o ônibus das 0200 da manha chegamos perto das 0300. Como Lara não havia avisado que também sairia, estavam todos preocupados e Aleixo avisou a segurança do clube para passar um radio assim que chegássemos. Em 15 minutos Aleixo estava no píer para nos pegar, a travessia até o barco foi silenciosa.
25/01/10
Hoje o dia da “Maria” foi cheio, comecei limpando os banheiros do barco, varrendo o barco e o vão entre os paineiros do chão e por ultimo passei pano, finalizado a limpeza fui para a cozinha, após uma faxina geral da Samirah comecei a preparar o almoço. Após o almoço passou pelo clube o Tiago, filho de Silvio, amigo de minha mãe, conversamos um pouco e aproveitamos para pegar uma carona com ele até o centro, lá fui em uma costureira para arrumar uma camiseta e uma bermuda, Caetano foi comprar dólar e Lara no banco. Na volta paramos para comer um churrasquinho e voltamos de ônibus. No clube tomei banho e lavei algumas roupas, as 1930 o Tiago passou e me pegou para irmos jantar, fomos no Camarão segundo dizem o melhor restaurante de Natal. Realmente é muito bom, comemos lula a dore de entrada e camarão ao caldo de jerimum, foi uma pena não dar tempo de comer sobremesa, pois o limite para voltar para o barco era 2200 e já era 2205 quando pedimos a conta. Cheguei no clube as 2230 apavorado com o atraso, graças a deus quando cheguei lá, havia um grupo de tripulantes do barco se aprontando para embarcar!! Ufa menos mal, quando chegamos no barco o comandante já estava dormindo e não percebeu o atraso.
26/01/10
Acordamos bem cedo para partir, como primeira função, tinha que tirar a ancora de popa, fomos eu, Lito e Jeff retirar a ancora de 35 kg na mão. Após essa operação voltamos ao barco e o café estava pronto, comemos e fomos subir a ancora principal. No meio da operação constatamos que a ancora havia enroscado em uma ancora com corrente abandonada no fundo do canal, primeiro a mergulhar foi Lito, e após varias tentativas, não conseguiu desenroscar. Então mergulhei e comecei a ajudar, tivemos que passar dois cabos para poder folgar a corrente da nossa ancora e assim soltar a outra ancora, conseguimos liberar. Voltamos para o barco tomamos um banho de água doce enquanto o barco iniciava a saída do porto, ainda fiquei um tempo acompanhando a saída, mas assim que o corpo estava enxuto, fui para cama e dormi até as 1200, hora que iniciou o meu turno e coincidentemente saiu o almoço. Como a carga das baterias estavam baixas, mesmo depois que subiram as velas, continuamos com os motores ligados com o intuito dar a carga necessária. Devido ao vento de alheta constante e o motor engrenado, estávamos andando a 9,5 knots o que garantiu uma boa distancia de terra ate o anoitecer, o que é muito bom, pois como ao norte de natal tem um banco de areia muito grande com profundidades em média de 30 a 50 metros a concentração de barcos pesqueiros, redes e espinheis é muito grande, o que representa perigo para o Fraternidade. Terminado meu turno fui dormir e só acordei para o jantar, a noite o vento continuava bom e mantínhamos em torno de 7,5 knots com o motor desligado.
27/01/10 e 03/02/10
O vento continua constante tanto na intensidade quanto no rumo, conseguimos progredir bem, não baixamos de 5,8 knots a noite quando rizamos o grande e chegamos a 8,5 knots durante o dia nas rajadas com todo panos em cima. O clima continua meio pesado a bordo, no ultimo turno chegamos a dizer que o clima era de depressão. Pois só fazemos as tarefas obrigatórias, cozinhar e lavar a louça do resto do tempo o pessoal dorme muito, passa muito tempo na leitura e de vez em quando jogamos xadrez ou cartas. Chegamos a conversar e decidi que na primeira oportunidade que tiver para conversar com o comandante vou sugerir para fazermos mais manobras de velas de proa, uma vez que temos um balão simétrico e um assimétrico e estamos com vento em popa, situação adequada para utilizar essas velas, com o intuito de mudar a dinâmica do barco alem de dar a oportunidade de aprendermos mais sobre as manobras das velas de proa. Decidi também iniciar hoje após o almoço as tão faladas oficinas. Vou começar com uma aula teórica sobre vela, aproveitando o quadro branco que foi adquirido em Natal e ver se outros animam a falar um pouco sobre o conhecimento de cada um. Cheguei a resumir dois dias em um mesmo texto pois realmente não a muito o que falar, acho que tenho dormido umas 12 horas por dia do resto passo boa parte lendo e escrevendo. Achei um livro de xadrez, vou estudar um pouco para ver se consigo ganhar co capitão. Porem da ultima vez que jogamos ganhei uma e perdi a outra.
Infelizmente na hora que peguei o computador resolvi sugerir se Aleixo queria ver as cartas náutica que tenho no meu notebook, cagada uma vez que ele e Ligia estavam argumentando sobre o assunto, acabei ficando no meio da situação!!
Noticia boa, em poucas horas passaremos pela linha do equador, normalmente este fato é comemorado com uma festa a fantasia, mas infelizmente não sei se temos clima para isso.
Realmente devido a baixo astral da tripulação não houve uma comemoração da tripulação em geral. Até fizemos um bolo para a ocasião e foi declarado que haveria um premio em dólares para a melhor e segunda fantasia, porem por desentendimentos da família o premio foi cancelado e devido a conflitos gerados na sequencia, a passagem passou praticamente em branco, Paulo filmou a tela do GPS com a passagem, enquanto terminávamos o bolo. Levei o bolo para fora com coca gelada e com quem estava no convés, fizemos um brinde com as cumbucas de bolo para comemorarmos tal feito, porem não houve batismo nem fantasia.
Depois de tal fato o clima ainda ficou pesado por um tempo, cada tripulante tinha sua fuga, uns dormindo outros lendo, porem o convívio estava difícil.
Porem após uma tarde de conversa entre os membros da família, os filhos decidiram fazer um encontro dos jovens entre os turnos das 0000 e o das 0300, foi muito bacana, pois conversamos e escutamos musica das 0200 as 0500, acho que este encontro facilitou a convivência nos dias seguintes, pelo menos entre os mais jovens. No dia seguinte as pessoas que participaram do “reggae” termo que os baianos usam para qualquer tipo de balada,seja ela de axé, rock ou eletrônica, dormiram bastante, uma vez que foi adicionado algumas horas no turno de todos.
Durante o dia vento aumentou a intensidade, mas se mantinha no mesmo rumo, chegamos a andar cerca de 160 milhas neste dia. Durante a noite, finalizado o meu turno da madrugada, ventava em torno de 25 a 30 knots, o barco se mantinha equilibrado, pois estávamos com o genoa enrolada no segundo rizo, o grande no primeiro rizo e a mezena toda em cima. Porém no turno seguinte de Caetano e Alexei, próximo as 0530 o vento aumentou e chegou 45knots na rajada, acordei com a movimentação geral dizendo que o piloto automático havia se perdido e com isso, não sei se o barco deu um gybe ou um bordo, acho que foi um bordo, pois como o barco tem tendência de orçar e folgaram a genoa para tentar riza-la, o barco perdeu pressão na proa e aumentou a tendência de orçar, como a genoa estava no pau de spy pois o vento era de alheta, quando ela aquartelou o barco começou a arribar rapidamente dando vários trancos na genoa e no pau, que acabou estourando o cabo que regula a altura do pau no mastro. No inicio do tumulto fui para em direção ao cockpit, mas acabei não saindo pois Aleixo proibiu qualquer um de sair, após a genoa enrolada, o barco não dava leme, tentaram abaixar a mezena após a quebra do cabo que usaram de preventer, mas não tiraram todas as voltas da catraca o que dificultou a manobra, momento seguinte perceberam isso e conseguiram descer a vela, neste momento Aleixo pediu que eu ajudasse lito com o pau de spy, após um tempo de dificuldade pois o peso do pau e a inscidencia do forte vento dificultava colocarmos ele no lugar, com certo esforço fizemos a manobra, na volta Aleixo pediu para eu assumir o leme enquanto ele organizava o segundo rizo do grande, porem o braço não dava leme, pois só tínhamos o grande no segundo rizo em cima e o barco andava algo em torno de 1,6 knots mesmo a correnteza, uma vez que a medição da velocidade se da no GPS. Foi quando solicitei a ele que abrisse a triqueta, pequena vela de proa usada em ventos muito forte. Após a abertura da triqueta, conseguimos estabilizar o barco e andar algo em torno de 4,5 a 5 knots. Na sequencia o piloto automático foi ligado e como era meu dia na cozinha fui preparar o café da manha. Mingau de cremo gema com aveia e salada de fruta. O vento diminuiu porem continuamos com o panos rizados por um certo tempo, na sequencia levantamos a mezena no segundo rizo, mantivemos essa configuração de vela quase o dia todo, no final do dia com o vento em torno de 23 knots, abrimos parte da genoa, porem a triqueta se manteve aberta, gerando turbulência na genoa, mas o barco estava equilibrado e andava em torno de 5 knots. Aproximadamente dois dias depois do acontecimento abrimos a genoa no segundo rizo e fechamos a triqueta, aumentando a velocidade para 6,5 a 7,5 knots.
Deixamos a foz do rio amazonas e nos encaminhamos para águas internacionais, chegando na Guianas, hoje estamos a aproximadamente 800milhas de Granada, nosso primeiro destino no Caribe. Aleixo e Ligia conversam bastante sobre os portos que provavelmente passaremos, mas sem definir um cronograma. Percebo que nossa estada no caribe vai ser curta. Aleixo demonstra gostar mais da polinésia que do caribe.
Aproveitei duas tardes para dar aulas teóricas de vela para o “estudantes”, foi muito bacana e quebrou um pouco o clima de desunião da galera. No último turno eu, Lara e Ana (thuca, apelido dado por Alexei) trocamos idéia sobre conversarmos com todos no intuito de cada um dos tripulantes preparasse uma palestra de aproximadamente uma hora sobre qualquer assunto de seu interesse para apresentar aos demais, a idéia parece muito boa, então decidimos que conversaríamos no próximo almoço com todos. Porem passou o próximo almoço e não houve a conversa devido a dispersão da tripulação, vamos ver se hoje acontece tal conversa. Pois acredito que a passagem de conhecimento geral entre os tripulantes é um grande beneficio desta viagem, além da oportunidade de conhecermos o mundo. A final todos deixaram empregos, faculdades e compromisso em troca de tais beneficio, dando em troca o trabalho no barco que vai destas manobras e turnos, quanto a limpeza interna das cabines e banheiros além da função de alimentação dos 11 tripulantes, tarefa essa que pesa 3 vezes ao dia a uma dupla, não esquecendo da louça que outra dupla lava três ou quatro vezes ao dia, dependendo do quanto os cozinheiros do dia sujam.
Estava lendo, já o segundo volume do Musashi, quando resolvi arrumar meu armário, pois estava bagunçado, percebi que havia umidade dentro, pois tinha um papel que estava todo molhado, comecei a observar e descobri que em cima do meu armário tem um respiro que da para o convés, utilizado para ventilação do barco quando não podemos abrir a gaiuta, porém dependendo do tamanho da onda entra água salgada. De repente ouvi passar uma onda grande sobre o convés do barco e olhei para o respiro, neste momento vi entrar uns 2 litros de água sobre o meu armário, onde estava todos os meus pertences, eletrônicos na parte superior e roupas na inferior, no mesmo momento comecei a tirar tudo de dentro, iniciando pelo notebook, que percebi que tinha umedecido levemente a capa de neoprene. Por muita sorte eu estava mexendo no armário, imaginei se estivesse no turno e algumas horas depois encontraria tudo encharcado, resultando em grande prejuízo.
Hoje passei uns 40 minutos junto com Lito, no paiol de proa. Tarefa difícil, pois ficar em um ambiente sem ventilação, separando as frutas e legumes estragados, já que não é possível deixar a gaiuta aberta, pois se passar uma onda sobre o convés, entra água salgada no paiol, aumentando a bagunça.
Como existe um revezamento diário na cozinha, todos tentam superar o dia anterior ou deixar saudade na data posterior. Resultando em refeições muito apetitosas que vai de peixe cru ou grelhado quando pescamos a feijoada ou legumes cozidos. Precisamos nos atentar pois como a ociosidade a bordo é grande e a comida farta a chance de ganhar peso é grande!!! Pegamos um atum ante ontem, o que mais uma vez garantiu uma proteína fresca.
Hoje estamos a menos de 600 milhas de Granada, acreditamos chegar em 5 dias. O vento continua favorável,variando a intensidade e continuamos sem colocar todo pano em cima e sem aproveitar o vento de alheta para subirmos o geniker ou o balão. Sempre que possível dou uma cutucada em Aleixo para aumentarmos o numero de manobras de vela no dia, de acordo com o vento e aproveitarmos para colocarmos as velas citadas acima. Porém ele diz não querer colocar o balão nesta perna por que a tripulação não esta preparada para executar mais manobras e como estamos conhecendo o barco é melhor ficar com pouco pano em cima independente do vento. Discordo um pouco pois a tripulação só vai adquirir preparo se alguém treiná-los a executar manobras, assim também só conheceremos o barco se experimentarmos, pois se ficar sentando no cockpit batendo papo durante o turno para passar o tempo e não participar de manobras, não se prepararão nunca! Ontem a noite conversei com 3 pessoas e todas me confirmaram que não participaram de nenhuma manobra a uns 3 a 4 dias, situação essa a qual eu também me incluo. Gerando uma desmotivação geral da galera. Isso acontece pois as duas únicas manobras que são efetuadas no dia, sempre são no mesmo turno e executadas pelas mesmas pessoas. Sobrando somente funções domesticas a serem efetuadas com freqüência por quase todos.
Resolvemos conversar com todos sobre as palestras, a idéia foi aceita e elogiada por alguns, outros que normalmente tendem a não incentivar a união do grupo não se manifestaram,porem encontramos uma dificuldade com relação ao cronograma para a apresentação das palestras. No fundo acho que estão todos acomodados com a situação, não querendo fazer muita força para mudar. O que na minha opinião é uma pena, pois como mencionado acima, viemos todos em busca de conhecimento e troca de experiências.
Ontem estudei sobre a Granada, parece que tem coisas interessantes por lá. Cachoeiras, caminhadas a picos de aproximadamente 2500 MT de altitude, locais para pratica de mergulho livre e autônomo, além da possibilidade de conhecer pessoas no mundo da vela, pois aparentemente muitos barcos passam por lá. Agora vamos aguardar e ver se teremos tempo para curtir um pouco o local, pois normalmente Aleixo não gosta de ficar muito tempo nos lugares e alem das funções domesticas, temos que abastecer o barco de água, executar alguns reparos e nos revezarmos no turno de guarda no barco. Não sabemos ainda quanto tempo vamos ficar em St. George, nosso primeiro destino, nem quais serão os próximos.
Um dos turnos da madrugada, contrariando a maioria, foi bastante motivador, pois passei mais da metade conversando com Aleixo sobre a construção do três marias (veleiro o qual ele construiu no final da década de 70 e deu as 3 voltas ao mundo em solitário). Falamos sobre como ele fez o molde no sistema plug-in, que é usado para construção de um ou dois barcos, pois quando se trata de um numero maior de barco é mais pratico construir um molde e a partir deste molde construir uma serie de barcos. Em como ele adquiriu um mastro de um veleiro de 50 pés que naufragou na Bahia e usou para fazer a retranca e o mastro de seu barco. Entre outros detalhes. Fiquei morrendo de vontade de construir o meu barco, apesar do turno acabar as 0300 tive dificuldade para dormir de tão empolgado que eu estava com a historia.Os últimos dois dias foram muito bacanas!! Ontem até o inicio da tarde estava um dia comum,sem muito o que fazer, após o meu turno da tarde, fui para minha cabine para ler. Estava um pouco entediado , quando Jeff passou pela cabine e comentei com ele que não agüentava mais não fazer nada, conversamos um pouco e decidimos ir para o convés para malhar, estávamos nos revezando na barra improvisada na targa (suporte na poap do barco conde fica o bote de apoio, placas solares e eólicos para carregar as baterias do barco) ou fazendo flexões no convés. Após os exercícios fui tomar banho e aproveitei para secar ao vento e só do final do dia, ao lado da casaria, foi quando Caetano chegou e começamos a falar besteiras, como a musica estava ligada e rolava um sambinha da Vanessa da Mata, pedi para o Caetano a me ensinar a dançar, começamos meio tímidos, ma seqüência veio Jeff, Paulo ai a animação foi geral, o que chamou atenção do resto da tripulação, Lito apareceu para dançar também e Lara para filmar, o resto da galera veio para tirar sarro, mas foi muito divertido, mudou o clima a bordo, só paramos para dar o rizo, manobra que executei com Lara e Tchuca, a manobra foi boa apesar de ser a primeira vez que fazíamos juntos, a duas noites atrás havíamos ensaiado a manobra durante o turno da noite. Na seqüência fomos jantar, o cardápio era sopa de abóbora com pão caseiro. Após o jantar aproveitamos a noite estrelada para estudarmos as estrelas, foi muito bacana. Demos muita risada com as observações após a aula de astrologia. O turno da noite foi tranqüilo. Hoje após o almoço, estávamos no cockpit todos lutando contra o sono após o almoço. Foi quando o vento rondou e foi para 150 graus da proa do barco e a genoa começou a bater muito e no momento que Aleixo subiu para o cockpit para ver a genoa, alguém sugeriu, vamos colocar o geniker,mas todo estávamos desacreditados que ele permitiria, já que outras vezes sugerimos e não foi acatado, porem contrariando nossas expectativas ele nos autorizou a manobra e a euforia foi geral, comecei a coordenar a manobra, Samira foi passar a escota, eu Lito prendemos a adrica, a amura e o punho com tudo instalado, eu, Caetano e Jeff começamos a içar a vela, de tão pesada que é devido ao tamanho precisamos de três na adrica, Lara e Tchuca cuidaram para que a vela na enroscasse em nada durante a subida, após o top chegar na ponta do mastro, solicitei que Jeff e Caetano fossem enrolar a genoa enquanto eu desenrolava o geniker(que é de enrolador, dispositivo para facilitar a manobra) e Samira cassasse a escota. Em menos de 20 min a vela estava içada, o barco saiu de 5,9 para 8,5 knots, todos ficaram eufóricos com a manobra que foi executada com excelência. Percebemos que este Geniker não é bom para arribar, instalamos um barber-haulling para tentar melhorar o shape, porem não tivemos muito sucesso e após varias tentativas mudando o ponto do barber e tentando trimar a vela, desistimos de andar tão arribado e começamos a orçar, mesmo que estivéssemos saindo do rumo, percebemos que a vela fica muito boa com o vento aparente em 130 graus, mas se arribássemos mais a vela começava a bater muito. Estávamos diante de um dilema, uma vez que para manter a vela cheia o barco ficava fora de rumo, situação a qual só tinha permissão do comandante para ficar 15 minutos, aproveitei para testar varias regulagens. Finalizado o período voltei o barco no rumo da granada, a qual estamos a 200 milhas menos de dois dias, e observei a vela, que a cada onda um pouco mais forte a vela muxava e quando enchia novamente os panos davam um tranco. A opção que tínhamos era tirar o geniker e colocar uma genoa, que também daria tranco, uma vez que não tínhamos como colocar o pau de spy na genoa para estabilizar-la que tinha sido danificado no dia do vento forte. Diante do dilema de qual das velas deixar bater, como a responsabilidade da manobra do geniker era minha, achei melhor abaixar a vela. Apesar de ficar somente uns 50 minutos com ela em cima, só a movimentação geral da tripulação para executar a manobra já tinha saciado nossa necessidade de executar manobras diferentes das de todos os dias. Após guardarmos o geniker no paiol de proa ficamos eu, Samirah, Caetano e Lara conversando na proa, embaixo da sombra da genoa, no final do dia, Jeff e Tchuca nos acompanharam no bate papo. Jeff havia solicitado a Aleixo para timoniar, umas vez que até agora somente o piloto automático desempenhou tal função, ele ficou uns 30 minutos na roda de leme até sair o jantar (na verdade um lanche de final de tarde, 1730), ligamos novamente o piloto e fomos todos comer, após o jantar sentei no cabine de comando para ler, até o momento que Aleixo me pediu ajuda, sai para o convés atrás dele sem saber o que iríamos fazer, quando cheguei no pé do mastro, descobri que íamos tentar arrumar o pau de spy, pois havia grande possibilidade da necessidade da utilização dele amanha ou na noite de aproximação para o porto de St. George em Granada, nosso primeiro porto no Caribe. Iniciamos o trabalho, eu Lito e Aleixo, Lito pois a cadeirinha e ficou executando o reparo na altura da primeira cruzeta eu além de cuidar da segurança da subida dele na catraca do mastro, fiquei levando ferramentas que foram necessária no decorrer do reparo para ele, após concluirmos parte do serviço, Lito desceu do mastro trazendo a peça a qual teremos que tentar desentortar e instalar novamente. Acreditamos que teremos como usar o pau mesmo que não de para desentortar tal peça, mas teremos que colocar um cabo de segurança,etapa que realizaremos amanha pela manha. Bom vou dormir agora pois daqui a pouco inicia o meu turno e não quero ficar morrendo de sono durante tal período que vai das 0000 as 0300.

Ja estou em Granada, mas em terra e dificil escrever, se der posto a chegada aqui, se nao so na proxima ilha. Até